
A FORÇA INERCIAL
DO HÁBITO
FICHA TÉCNICA
ARTISTAS
Amanda Charão, Amanda Teixeira, Eduardo Montelli, Elida Tessler, Fernanda Fedrizzi, Giovana Gobbi, Hélio Fervenza, Helô Sanvoy, Leonardo Lopes, Letícia Bertagna, Luciane Bucksdricker, Manoela Cavalinho, Marcelo Koetz, Maria Ivone dos Santos, Mariana Rieira, Michel Au Hasard, Nazú Ramos, Nilton Dondé, Pamela Zorn, Rick Rodrigues, Vera Chaves Barcellos
CURADORIA
Guilherme Mautone
PRODUÇÃO
Guilherme Leon e Caroline Ferreira
TEXTO CURATORIAL
Abrir a casa numa interrogação. É este o preceito de Maria Gabriela Llansol em seu pequeno poema que, aqui, é sugerido enquanto ação mobilizadora de descontinuidades. Diante da força inercial do hábito – descrição de Michel de Certeau sobre o lento processo de inscrição que transforma toda vivência excepcional em hábito, generalizando tantas práticas da mesma ordem – é que a interrogação llansoliana se insurge, rompendo, potencialmente, as resistências que se opõem à mudança.
Ainda que habitemos, como lembrou Barthes em Como viver junto, através de Klossowski e Nietzsche, o descontínuo; na casa, este território peculiar, é onde o corpo – seus gestos e suas idiossincrasias – repousa, trabalha, aguarda, encontra, envelhece, come, suja, limpa, fala, cria, vê e faz; mais todos os outros verbos que, juntos, numa equação sempre faltante, praticam no cotidiano da casa a lenta passagem das horas e dos dias. Abrir a casa numa interrogação poderá significar, assim, um discreto delírio: inquirí-la, questioná-la, dela duvidar, incomodar-se com ela, estranhá-la, opondo-se ao estereótipo da casa como o espaço da intimidade criativa ou ao edulcorado e enganador lugar comum da “home, sweet home”. Ainda que essas fantasmagorias disfarçadas sobre a casa nos habitem, desde Xenofonte, no século IV a.C., com seu famoso Oeconomicus, a casa foi registrada na tradição filosófica ocidental como teoricamente desinteressante.
Ela é o espaço privado, o lugar da oikonomia, da administração do oikos (casa), como nos lembrou Agamben. Oikonomia, uma práxis, atividade prática sempre demandada diante de uma situação particular, como nos lembrou Aristóteles. Vêm daí, portanto, não apenas um desinteresse filosófico sobre a casa por ser o espaço privado, em oposição ao espaço público, mas também um desinteresse calcado em sua suposta vaziez epistemológica – o conhecimento se faz na ágora, no espaço público onde debatem os homens (ainda que o Banquete, de Platão, famoso diálogo sobre o amor, transcorra numa festa dentro de casa e protagonize na figura de Diótima de Mantinéia, uma mulher, a reafirmação da metafísica das formas e as particularidades da experiência sensível). Talvez por isso, justamente, é que a casa se ofereça desde aí aos muitos estereótipos que não a interrogam e que nos capturam, delineando contradições íntimas.
Abrí-la é, portanto, colocar-se a pensá-la. É perguntar por ela, hoje, mas através da arte. Abrir a casa numa interrogação é descontinuá-la, mobilizando uma força maior que a inércia habitual associada a ela.
Guilherme Mautone
REALIZAÇÃO
Remanso - Instituto Cultural
APOIO
Museu de Arte do Rio Grande do Sul | MACRS
Café Musa Velutina
Cabocla Cervejas Artesanais
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA
Livre
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LISTA DE OBRAS
AMANDA CHARÃO (Novo Hamburgo, RS, 1994). Memorabília, 2025. Carimbo com chaves antigas da casa da Rua Santo Antônio, 366, encontradas no imóvel. Dimensões varoáveis. Site specific / comissionamento institucional.
AMANDA TEIXEIRA (Porto Alegre, RS, 1991). Casa de Papel, 2013 - 2025. Instalação. Dimensões variáveis. Acervo da artista.
EDUARDO MONTELLI (Porto Alegre, RS, 1989). Minha mãe e suas ferramentas, 2014. Videoperformance. 2'40". Acervo do artista.
ELIDA TESSLER (Porto Alegre, RS, 1961). Toda pessoa, 2002. 27 potes de vidro em prateleiras de vidro. 10 cm x 10 cm x 14,5 cm. Acervo da artista.
FERNANDA FEDRIZZI (Porto Alegre, RS, 1987). FRESTA!, 2020. Publicação, impressão digital em papel sulfite 180g/m². 13 x 7,5 cm, 16 páginas, edição de 20 exemplares. Acervo da artista.
GIOVANA GOBBI (Gramado, RS, 1989). Fui viajar e voltei, 2023. Acrílica, bastão a óleo, lápis de cor, grafite, aquarela e giz pastel sobre tela. 150 x 95 cm cm. Acervo da artista.
HÉLIO FERVENZA (Sant'Ana do Livramento, RS, 1963). Rumores, 1996 - 2025. Recortes em papéis impressos (revistas) e alfinetes. Dimensão aproximada de cada elemento (5 elementos): 3 x 4 cm. Acervo do artista.
HELÔ SANVOY (Goiânia, GO, 1985). Idade da meia-luz, 2020. Proposição. Dimensões variáveis. Acervo do artista.
JORGGE MENNA BARRETO (Araçatuba, SP, 1970). Deusejo, 2011. Borracha vulcanizada. 110 x 150 cm. Acervo do Museu de Arte Contemporânea do RS (MACRS) / Aquisição por compra e doação AAMACRS / Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça 2010, Funarte.
JORGGE MENNA BARRETO (Araçatuba, SP, 1970). Fomiliar, 2011. Borracha vulcanizada. 63 x 83 cm. Acervo do Museu de Arte Contemporânea do RS (MACRS) / Aquisição por compra e doação AAMACRS / Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça 2010, Funarte.
JORGGE MENNA BARRETO (Araçatuba, SP, 1970). Suavisão, 2011. Borracha vulcanizada. 110,5 x 149 cm. Acervo do Museu de Arte Contemporânea do RS (MACRS) / Aquisição por compra e doação AAMACRS / Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça 2010, Funarte.
LEONARDO LOPES (Porto Alegre, RS, 1997). Sem título, 2025. Desenho em matéria queimada sobre papel (carvão, cinzas e fuligem de resíduos domésticos). 60 x 45 cm. Acervo do artista. X 3.
LETÍCIA BERTAGNA (Porto Alegre, RS, 1983). Fundo do fora (Potlatch), 2015 - 2020. Fotografia. 4,06 x 2,82 m. Acervo da artista.
LUCIANE BUCKSDRICKER (Porto Alegre, RS, 1977). A casa preta queimada, 2017 - 2025. Objeto. 36 x 38,5 x 23 cm (aproximadamente). Versão 2025 do trabalho de 2017 produzido especialmente para Remanso. Acervo da artista.
MANOELA CAVALINHO (Porto Alegre, RS, 1981). Lustre candelabro, 2025. Instalação, site specific. 120 x 120 x 70 cm. Acervo da artista.
MARCELO KOETZ (Porto Alegre, RS, 1997). Jogo da Memória, 2021 - 2022. Pastel oleoso e pastel seco sobre filtros de café. 20 x 15 cm (cada) / 60 x 45 cm (montagem com nove desenhos). Acervo do artista.
MARIA IVONE DOS SANTOS (Vacaria, RS, 1958). Souffle (2ª edição), 1993 - 2024. Fotografia de base analógica, digitalizada e impressa em papel Hahnemühle Photo Matt Fibre 200g. 25 x 131 cm (montadas em moldura de acrílico). Arquivo Maria Ivone dos Santos
MARIA IVONE DOS SANTOS (Vacaria, RS, 1958). Maçã, 2002. Fotografia de base analógica montada em suporte de acrílico vermelho, 7,2 x 9,5 cm. Arquivo Maria Ivone dos Santos
MARIANA RIERA (Porto Alegre, RS, 1982). A cama, 2020. Acrílica e óleo sobre tela, 220 x 145 cm. Acervo da artista.
MICHEL AU HASARD (Dois Irmãos, RS, 1992). Era uma casa segura, 2025. Grafite e borracha sobre papel. Três desenhos em A3 (42 x 29,7 cm) / 45cm x 33cm na moldura. Acervo do artista.
NAZÚ RAMOS (Sapucaia do Sul, RS, 1999). Exposição da vida íntima, 2023. Lambe. 21 x 261 cm. Acervo da artista.
NILTON DONDÉ (Caxias do Sul, RS, 1997). Desengavetando memórias, 2021 - 2025. Site specific, apropriação de gavetas. Dimensões variáveis, cada gaveta: 13 x 45 x 41,5 cm. Acervo do artista.
PAMELA ZORN (Três Coroas, RS, 1998). Álbum de família (série), 2020. Lápis de cor sobre papel pólen e fotografias. 15 x 22 cm (desenhos); 10 x 15 cm (fotografias). Acervo da artista.
RICK RODRIGUES (João Neiva, RS, 1988). Sem título (série A casa do passarinho), 2025. Instalação. Dobraduras de papel. 5 x 5,5 x 5 cm (cada objeto) / e instalação de dimensões máximas. Comissionamento para exposição / distribuição gratuita.
VERA CHAVES BARCELLOS (Porto Alegre, RS, 1938). Casasubu (Da série), 2006. Fotografia digital, impressão em papel fotográfico (cópia única). 51 x 6,3 x 3,5 cm (peça emoldurada). Acervo Guilherme Mautone.
VÍDEOS
PROGRAMA PÚBLICO

14.03.25
Aceita um copo d’água do Guaíba? | por Mariana Silva da Silva (Infraordinaries) | infração artística
Ouça o que atravessa as paredes | por Gustiele Fistaról (Infraordinaries) | infração artística
Entra, não repara a bagunça | por Lis Machado (Infraordinaries) | infração artística
21.03.25
Conversas sobre a casa | com Letícia Bertagna, Luciane Bucksdricker e Guilherme Mautone | roda de conversa e debates
22.03.25
Ensaios de Morar | por Laura Moreira | oficina
28.03.25
Habitar o hábito: sala de leituras | por Elida Tessler | ciclo de leituras
12.04.25
sempre ter as mãos ocupadas | por Amanda Teixeira | oficina
26.04.25
Reservatório de memórias | por Catarina Dias | oficina
10.05.25
Para uma boa escovação: movimentos circulares | por Tiago Gasperin | performance
Vestígios do habitar: memórias impressas | por Amanda Charão | oficina
CONVERSAS SOBRE A CASA | com Letícia Bertagna, Luciane Bucksdricker e Guilherme Mautone