GESTO
libido, trabalho &
política na performance
FICHA TÉCNICA
CURADORIA
Marina Câmara, Marcela Futuro, Samy Duarte & Ali do Espírito Santo
ARTISTAS
Amador e Jr. Segurança Patrimonial Ltda., Ana Luisa Santos, Carolina Santana, Cinthia Marcelle, Cláudia Paim, Daniella Domingues, Dayane Tropicaos, Elaine Tedesco, Elias Maroso, Elle de Bernardini, Érica Storer, Erico Bonder, Gabe Felds, Jo Ovadia, Laura Gonzaga, Letícia Parente, Lucia Koch, Marcela Futuro, Marco Paulo Rolla, Marcone Moreira, Maria Ivone dos Santos, Marion Velasco, Paulo Bruscky, Paulo Nazareth, Randolpho Lamonier, Ricardo Burgarelli, Sansa Rope, Sara não tem nome, Shima, Tiago Gasperin, Tiago Mata Machado, Vera Chaves Barcellos, Victor Galvão.
APRESENTAÇÃO
A performance e suas formas de registro são os temas desta exposição, cujo título remete ao verbo gestar, para fazermos menção à capacidade da arte processual conceber o pensamento crítico. Os trabalhos presentes na exposição tomam da ontologia da performance a hibridez e a aversão ao maniqueísmo, dando luz à característica principal da performance, que é mobilizar os corpos sem no entanto, desconsiderar o pensamento, irrefutavelmente parte do corpo (não, corpo e mente não só não se distinguem, como uma diferenciação entre eles seria possível apenas em termos de graus, e não de natureza).
A tomada do gesto performático como tema de uma pesquisa e exposição diz da importância que observamos na performance, enquanto um ponto nodal na história da arte. Esta importância histórica se deve, no entanto, a nosso ver, menos ao fato deste gênero artístico ser ou não considerado um marco, e mais às características que o constituem. Não obstante já tenham se passado cerca de 70 anos desde as aparições das ações que assim foram nomeadas, gestos que hoje chamamos de performáticos podem ser enxergados em diversos eventos em que o corpo foi posto a serviço de uma manifestação artística, desde sempre. Para não irmos tão longe, ainda nas Vanguardas do início do século XX, tivemos, no âmbito do Dadaísmo por exemplo, as leituras dos poemas sonoros de Hugo Ball, no Cabaret Voltaire, as fotografias feitas por Man Ray de Marcel Duchamp travestido de Rrose Sélavy, enquanto aqui no Brasil, nos anos 40, tivemos as caminhadas no contrafluxo de procissões, feitas por Flávio de Carvalho, para ficarmos em poucos exemplos.
Para além dessa capacidade de dar corpo a formulações iniciadas antes de sua nomeação, o que mais nos interessa é que a performance, cujo advento coincide com o da própria Arte Contemporânea, tem ainda pela frente um imenso terreno a ser estudado e tratado, já que grande parte das questões levantadas desde suas ações antecessoras – a saber, a permeabilidade e a abertura do pensamento crítico sobre as amarras da linguagem, das categorias e das classificações que estruturam o pensamento ocidental – seguem absolutamente em aberto hoje, e certamente ainda por muito tempo.
Dentre o corpus de obras de Gesto é possível identificar pelo menos três núcleos a partir do modo como os interesses dos artistas pelo gesto performático se dão: um núcleo voltado à questão da libido e do libidinal, do sensível e do erótico; um segundo núcleo cujo interesse se centra na questão do trabalho – como atividade produtiva e motor do sistema (tanto da arte, quanto capitalista e neoliberal); e ainda outro núcleo que trata de questões políticas de forma mais direta. Fazendo jus, no entanto, precisamente à suas filiações ao gênero da performance e à “promiscuidade” a ele inerente – para citar Marco Paulo Rolla –, ainda que tentemos criar agrupamentos para lê-las, as obras dificilmente permaneceriam filiadas a este ou aquele núcleo, transitando, assim, em suas intercessões. Nos resta lembrar, por fim, do fato de que trabalhar com a performance diz de uma especial relação com o desassombro, que se acresce ao ato de coragem que é ser artista, já que, como sabemos, o performer não se expressa através do objeto artístico, mas sim corporifica a própria arte, se torna a obra em primeira pessoa, dando, por assim dizer, a cara a tapa.
Texto de Marina Câmara
PERÍODO DE EXPOSIÇÃO
05 de julho - 26 de outubro de 2024
REALIZAÇÃO
Remanso - Instituto Cultural
Trilhas Artísticas
APOIO
Universidade Federal do Rio Grande do Sul | UFRGS
Pró-Reitoria de Extensão da UFRGS
Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da UFRGS
Departamento de Artes Visuais da UFRGS
Museu de Arte Contemporânea do RS | MAC RS
Fundação Vera Chaves Barcellos | FVCB
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA
Exposição não recomendada para menores de 18 anos. Apresenta imagens de nudez e conteúdo sexual.
LISTA DE OBRAS
CAROLINA SANTA (Belo Horizonte, MG, 1985). Não sou tua Vênus 2018. Fotografia digital. 42 x 29,7 cm. Acervo particular.
MARCELA FUTURO (Porto Alegre, RS, 1997). Sala de estar, 2021. Fotografia digital. 29,7 x 42 cm.
DAYANE TROPICAOS (Contagem, MG, 1988). Medidas, 2018. Políptico, 20x, resultante de fotoperformance. Fotografia digital em lambes. Dimensões variáveis.
TIAGO GASPERIN (Farroupilha, RS, 1997). Autorretrato, 2024. Objeto, trenas. Dimensões variáveis.
MARIA IVONE DOS SANTOS (Vacaria, RS, 1958). Meditações (Poing), 2000. Fotografia. Ampliação de fotografia analógica. 18 x 24 cm (tiragem: 5).
MARIA IVONE DOS SANTOS (Vacaria, RS, 1958). Zona d'ombre, 1994. Escultura em ferro fundido. 6 x 12 x 2 cm (tiragem 2).
SARA NÃO TEM NOME (Contagem, MG, 1992). Andar de cima, 2009. Fotoperformance, impressão de fotografia digital, tríptico. 50 x 30 cm.
MARCO PAULO ROLLA (São Domingos Prata, MG, 1967). Objetos de desejo, 1999. Video. Cor e som. 20'45''.
PAULO NAZARETH (Governador Valadares, MG, 1977). Aqui é arte, 2005 - 2007. Impressão sobre papel. Conjunto de 5 folhetos. 21,3 x 14,6 cm (cada). Acervo do MACRS.
PAULO NAZARETH (Governador Valadares, MG, 1977). Série Acontecido & Ocorrido, 2024. Instalação. Lata e cartazes. Impressão offset sobre papel jornal. Múltiplos.
VERA CHAVES BARCELLOS (Porto Alegre, RS, 1938). La Definición Del Arte, 1993. Videoarte. Cor, som. 24'48''. Coleção da Fundação Vera Chaves Barcellos.
LETÍCIA PARENTE (Salvador, BA, 1930). Tarefa I, 1982. Videoarte. Cor, som, 01'56''. Coleção da Fundação Vera Chaves Barcellos.
CINTHIA MARCELLE (Belo Horizonte, MG, 1974) & Tiago Mata Machado (Belo Horizonte, MG, 1973). Buraco Negro, 2008. Video. Preto e branco, som. 4'41''.
ELLE DE BERNARDINI (Itaqui, RS, 1991). Meu cu é uma festa, 2015. Videoperformance. Cor, som, 1'03''.
ELLE DE BERNARDINI (Itaqui, RS, 1991). Meu cu é uma festa, 2015. Videoperformance. Cor, som, 1'03''.
VICTOR GALVÃO (Belo Horizonte, MG, 1994) & LAURA GONZAGA (Belo Horizonte, MG, 1994). Interlúdio Percurssivo, 2013. Videoarte. Cor, som, 7'16''.
MARION VELASCO (Porto Alegre, RS, 1960), ELAINE TEDESCO (Porto Alegre, RS, 1963) & LUCIA KOCH (Porto Alegre, RS, 1966). Mudo, 1988. Videperformance. Cor, sem som. 0'56''. Coleção Arquivos do Estúdio 88.
PAULO BRUSCKY (Recipe, PE, 1949). Xeroxperformance, 1980. Videoarte. Cor, som, 0'40''.
CLAUDIA PAIM (Porto Alegre, RS, 1961 - 2018). Encantamento - Versão século XXI, 2013. Vídeo, cor e som, 07'53''.
ERICA STORER (Curitiba, PR, 1992) & SANSA ROPE (São Paulo, SP, 1993). Há quedas por vir, 2021. Video, registro de performance na 33ª Mostra do Programa de Exposições do Centro Cultural de São Paulo. Cor, sem som, 38136''. Captação e edição Renato Maretti e Luisa Callegari.
SHIMA (São Paulo, SP, 1978). Testemunho, 2006 - 2010. Fotoperformance. Impressão de fotografia digital. 29,7 x 42 cm.
ELIAS MAROSO (Sarandi, RS, 1985). Intervenção #4, 2013. Registros fotográficos de intervenção urbana. Díptico. 73 x 42 cm (cada).
RICARDO BURGARELLI (Diamantina, MG, 1990). Arquivo Morto, 2017. Fotografia digital impressa sobre papel. 28 x 25 cm. Acervo particular.
RICARDO BURGARELLI (Diamantina, MG, 1990). Arquivo Morto, 2017. Vídeo, cor, sem som. 5'45''.
MARCONE MOREIRA (Pio XII, MA, 1982). Série Exaustos, 2017. Grafite sobre papel. 30 x 22,5 cm. Acervo particular.
DANIELLA DOMINGUES (São Paulo, SP, 1982). Quebrando minha coluna, 2015 - 2016. Registros de ação e escritos de artista. Dimensões variadas.
DANIELLA DOMINGUES (São Paulo, SP, 1982). Célula-vaga, 2015. Video, cor e som, 26'30''.
RANDOLPHO LAMONIER (Contagem, MG, 1988) & VICTOR GALVÃO (Belo Horizonte, MG, 1994). Sunset Fever, 2022. Curta-metragem, cor, som, 10'42''.
PERFORMANCES
AMADOR E JR. SEGURANÇA PATRIMONIAL LTDA. / ANTÔNIO GONZADA AMADOR (Rio de Janeiro, RJ, 1991) & JANDIR JR. (Rio de Janeiro, RJ, 1989). Trabalho Remoto, 2024. Adesivo sobre MDF. 80 x 180 cm (cada).
ERICO BONDER (Porto Alegre, RS, 1998). Eu visto a camisa da arte, 2024.
GABE FELDS (Canela, RS, 1997). Aparatos Ambulantes, 2024.
GABE FELDS (Canela, RS, 1997). Exposição para formigas, 2024.
JO OVADIA (Porto Alegre, RS, 1984). Verde Esperança, 2024.
TIAGO GASPERIN (Farroupilha, RS, 1997). Quatro maneiras de inutilizar caixas de fósforo, 2024.
ANA LUISA SANTOS (Belo Horizonte, MG, 1979). Melindrosa, 2014 - 2024.
PROGRAMA PÚBLICO
Ao longo da duração da mostra, foram realizadas inúmeras atividades de ativação expositiva, gratuitas para o público, em formatos diversos como, por exemplo, oficinas, visitas mediadas e performances.
> 27 de julho de 2024 | Ficcionalizando medidas, com Thiago Gasperin
> 10, 15 e 24 de agosto de 2024 | Performar/estranhar, com Ali do Espírito Santo
> 14 de setembro de 2024 | Exercícios de literalidade, com Marcela Futuro
> 28 de setembro de 2024 | Exposição para pombas e outras criaturas, com Gabe Felds